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terça-feira, 20 de setembro de 2011

“Os Dias Depois” por Lya Luft


O dia depois. O day after. Os dias depois. A Senhora Política passeia pelo país com seus véus agitados ao vento da alienação ou da convicção, semeando desalento ou alegria, rosto coberto pela cabeleira, numa das mãos a caixinha de enigmas que ela mesma representa. Passado o primeiro turno das eleições. misturam-se no povo e nos candidatos, vencedores e derrotados, euforia, desejos. dúvidas e receios. Frustração e inconformidade, em alguns casos: políticos que realmente trabalharam pelo seu estado. sua gente. sua região, deram o melhor de si, realizaram o que não se fazia em décadas, e em troca… nada. Mas a gente sabia que em política o reconhecimento funciona pouco.

Os eleitores vitoriosos com os candidatos de sua predileção e confiança (naturalmente se imagina que não com o voto vendido e comprado) hoje celebram. Conseguiram colocar nos postos-chaves pessoas em quem de verdade confiam, a quem entregam parte de seu destino, de quem sabem com certeza que são honradas, interessadas, dedicadas a algo mais do que poder e vantagens. Felizardos os que conseguiram isso nestas eleições.

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“Passando o primeiro turno das eleições, misturam-se no povo e nos candidatos, vencedores e derrotados, euforia, desejos, dúvidas e receios”

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Os eleitores derrotados remoem, talvez. seu esforço débil em e de várias partes esboços favor de seus escolhidos, elaboram dúvidas quanto ao futuro, tentam lidar com a melancolia ou a descrença. Talvez susto e receios. Os mais otimistas entre eles dizem:”Nada vai mudar, não importa se vence um rinoceronte chamado Cacareco (os muito jovenzinhos não saberão do que se trata) ou um palhaço Tiririca, a coisa é sempre a mesma”. Sou dos que não pensam assim: um governo competente faz muita diferença; representantes corruptos fazem muita diferença: interesse pelo seu povo faz muita diferença, quando supera o interesse próprio. Mas isso tudo quem decide é o povo, democraticamente. Esse que fez surgir uma fada da floresta surpreendendo a todos com sua força, e revelando que não há indiferença, mas desejo de melhoria.

Pois entre nós anda também a Dama Democracia. Por causa dela é preciso que algo mude, sim, a cada nova eleição. Não importa que lado venceu, ou vencerá num segundo turno, muita coisa tem de mudar – menos o que estava bom. Isso só tem mesmo é de melhorar ainda mais. Que haja punição muito mais dura para os bandoleiros públicos, e desapareçam as eminências pardas que – regiamente pagas – continuaram comandando o espetáculo, lá dos bastidores. Que despossuídos e privilegiados, descendentes de africanos, orientais, árabes ou europeus, recebam a mesma atenção e respeito: todos juntos construíram e mantém este país.

Que a geme possa confiar nas instituições, e nunca mais um tribunal supremo hesite, diga e se contradiga. e nos deixe perplexos à espera das decisões e sabedoria nessa última instância em que podíamos confiar num universo de tanta desconfiança fundamentada. Que sejam banidas em definitivo quaisquer ameaças à nossa liberdade, começando pela de imprensa, esteio de qualquer democracia, expressão livre do pensamento para todos, do padeiro ao senador. Que os fantasmas de pesadelo que a rondam periodicamente desapareçam para todo o sempre, amém.

E que, eleito, presidente ou presidenta. por favor: de uma olhada num espectro pouco conhecido, que muito me assusta: a tentativa de meter a mão na propriedade privada começando pelos direitos autorais – acham que artistas se incomodam menos, são mais alienados, distraidos? – de livros ou músicas. Já recebi várias vezes e de várias partes esboços desse projeto, cujo centro, absurdo e bizarro, é que se podem pegar, segundo arbítrio de uma comissão (ou até do presidente da república), livros para grandes edições a ser distribuídas gratuitamente. O autor nada recebe e, se reclamar ou se negar. “será punido” (está escrito, sim). Que isso não passe, não escape aos olhares responsáveis de presidente ou presidenta, mas seja enviado rapidinho para o quinto dos infernos, garantindo que propriedade privada merece respeito entre nós. Para que as duas irmãs. Política e Democracia, não sintam que não temos para elas o espaço que merecem.

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