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quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Doces e perigosas

Falsa ilusão
As bebidas ice dão a sensação de que se consome pouco álcool. Deveriam virar caso de saúde pública

A iniciação ao álcool é cada vez mais precoce. A atual geração de adolescentes começa a beber regularmente aos 14 anos – quase três anos antes da média exibida pelos jovens há cinco anos. Os dados são do I Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na População Brasileira, de 2007, realizado pela Secretaria Nacional Antidrogas. A mudança preocupa porque, quanto mais cedo uma pessoa começa a beber, maior é a probabilidade de ela vir a ter problemas com o álcool: 9% dos adultos que deram os primeiros goles aos 14 anos passaram depois à categoria de dependentes. Entre os que começaram a beber após os 21 anos, esse índice é de apenas 1%, segundo a publicação Uso e Abuso de Álcool, lançada pela Universidade Harvard em 2008.

As meninas é que causam mais preocupação. As adolescentes de hoje compõem a primeira geração de mulheres que se igualam aos homens nos índices de alcoolismo. E essa não é uma tendência exclusivamente brasileira. "No mundo todo, as moças estão alcançando os rapazes no que se refere aos problemas relacionados ao álcool", disse a VEJA o epidemiologista americano James Anthony, professor da Universidade Esta-dual de Michigan. Entre outros motivos, elas se sentem estimuladas a competir com os garotos, como se a bebida fosse também uma área em que devesse prevalecer a equidade entre os sexos. "Como se um sinal de mulher bem-sucedida fosse beber feito um homem", acrescenta o psicoterapeuta Celso Azevedo Augusto.

Começar a beber exige persistência dos adolescentes, por causa do gosto forte e amargo do álcool. Mas esse obstáculo foi superado por uma invenção que deveria virar caso de saúde pública: os ices. As misturas docinhas de vodca com suco de fruta ou refrigerante fazem a alegria da moçada. São o combustível das baladas e festinhas caseiras, que invariavelmente terminam em muito vômito. "Os ices não apenas introduzem os jovens no consumo de álcool como os ajudam a ingerir doses cada vez maiores", diz o neurocirurgião Arthur Cukiert, do Hospital Brigadeiro, em São Paulo. Vendidos em todo lugar e vistos pelos pais como "menos ofensivos", podem ser mais devastadores do que outras bebidas. "Apesar de terem teor alcoólico semelhante ao das cervejas, são consumidos como limonada", diz a psicóloga Ilana Pinsky, professora da Unifesp. Um perigo. Mais um.

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